terça-feira, 7 de julho de 2009

POESIA FACILITA COMUNHÃO MAS DIFICULTA COMUNICAÇÃO


Wittingenstein dizia que os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo.E eu concordo com ele desde que li, há muito tempo , essa frase lapidar. Mas para que esse insight fique ainda mais claro e mediterrâneo, basta agregar a ele a noção reveladora(via Rubem Alves) de que nós somos uma encarnação de palavras e que a nossa personalidade nada mais é do que um hábito ou um habitat de linguagens. É nessa direção, aliás, que podemos entender tudo aquilo que é quase ininteligível pra gente. E aqui é fundamental reaplicar a noção de Chomsky sobre a natureza essencialmente criadora da linguagem. Ou seja: se considerarmos a mente como uma caixa-preta, perceberemos um desnível entre aquilo que entra(o número de símbolos) e aquilo que sai dela (o número infindável de frases construídas com esses símbolos). Isto quer dizer, concretamente, que a todo momento nós estamos criando, ouvindo e entendendo frases que nunca proferimos ou ouvimos antes e que no entanto não temos dificuldades em compreender. Mais ainda: é possível entrever que, através da linguagem, o ser humano mostra que é capaz de ir sempre além de suas experiências anteriores. É esse sentido de incompletude e de flexibilização criativa que possibilita uma série numerosa de traduções e interpretações da realidade, do mundo e dos outros. É também através desse viés, fortemente estimulado e limitado pela linguagem e pela palavra, que podemos efetuar imaginativamente a experiência do outro. Mas é claro que aqui --como em qualquer outra tradução ou transcriação--só podemos dimensionar a experiência do outro dentro das articulações específicas da nossa linguagem. Decorre daí uma série de interpretações equivocadas e de mal entendidos, pois ao mesmo tempo que estamos habilitados a assimilar o novo, estamos também habituados a decodificar o novo através do velho. O que nunca deixará de ser uma operação reducionista submetida ao caráter arbitrário da linguagem--e ao nosso próprio arbítrio.Daí o fato corriqueiro-- inumeráveis vezes vivenciado por mim e por qualquer vivente-- de não ser entendido, compreendido ou aceito. Quantas vezes e quantas pessoas já confessaram ter ficado boiando diante da minha fala...E por que? É óbvio que para algumas pessoas esse fato só tem uma causa: copos a mais. Reconheço, hoje, que isso pode até ser correto. Mas essa não pode e nem deve ser uma conclusão definitiva e derradeira. Até porque sinto quase sempre em meu discurso--mesmo em plana e plena sobriedade-- algo que está fora do eixo ou está fora do estoque de expressões usuais. Pode até ser um vício, uma precariedade ou defeito nodal em meu processo de comunicação. O fato concreto é que não consigo deixar de me embrenhar num armazem de palavras pouco comuns, num cipoal de símbolos pouco compreensíveis, num matagal de imagens que só cabem e só tem cabimento na escrita de um verso. Mais ainda: tenho o mau costume de desautorizar o encadeamento lógico em favor do desentramento mágico. Sempre preferi a revelação do que a repetição. E acho que todas as confusões já acontecidas--nem todas, é claro-- deram-se muito mais por esse canal de difícil trânsito do que por alterações comportamentais via ingestão etílica.

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